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Teardown: um playground de destruição e Ray Tracing

A destruição dinâmica de Teardown me deixou preso por horas na madrugada, mas o que o jogo tem de especial?

Certo dia, um jogo em acesso antecipado foi detectado no meu radar num vídeo do gloriosíssimo Digital Foundry, o Teardown. O game que permitia total destruição do cenário construído em voxels — pixels tridimensionais, para quem ainda não conhece — tinha grandes feitos em capacidade gráfica. É indiscutivelmente lindo — e pesado —, e oferecia uma gameplay que jamais vi antes, além de uma ambientação e trilha sonora curiosas. Pus as mãos nele durante a última promoção da Steam, mas do que se trata?

Assim que parti para a primeira missão da campanha, o jogo me cativou. São poucas as ferramentas iniciais — uma marreta, uma lata de tinta spray amarela e um extintor — e seu primeiro “trabalho” é demolir uma casa. O cenário é o pontapé da história de vinganças e demolições mútuas entre policiais, donos de fábricas e milionários. É tudo muito doido, mal me prendo à esses detalhes.

Teardown Game

Nessa primeira ocasião, o jogo apresenta os explosivos em gás, alguns veículos, física e diferentes materiais que compõem uma casa. É tudo muito simples e introdutório, mas não deixei de ficar empolgadaço. Depois de concluir a demolição completa da casinha, munido de explosivos, marreta e tratores, partimos para um dos primeiros ambientes do game.

Destruir, roubar e algumas coisas mais

Teardown se assume um grande playground quando se trata de ambientes. É uma lista seleta de localizações que serão revisitadas inúmeras vezes para ocasiões diferentes. Cada um desses ambientes faz o que mais gosto: contam uma história dos seus donos e das pessoas que lá habitam ou trabalham. A cada sessão, eles mudam — entram em obras para reformas, refazem a segurança, constroem novos pontos e por aí vai.

Teardown, eventualmente, é uma demonstração virtual de uma junção de gambiarras. (Fonte: Teardown/Divulgação)

No game, as missões tendem a apresentar puzzles que implicam em observação, planejamento e execução. A maioria das missões implica no roubo de objetos e carros, mas nem de longe se restringem a isso. Todas elas são variadas o bastante para garantir uma nova dinâmica a cada contrato a ser concluído e cada sessão dura cerca de 30 minutos ou mais, dependendo da sua dedicação.

Ao fundo, o jogo apresenta uma belíssima trilha sonora que remete à filmes de espionagem antigos e ao tão amado — pelo menos, por mim — Driv3r do saudoso PlayStation 2. Dá para facilmente encarar longos minutos no planejamento do trabalho ouvindo o som e curtir a vibe de 13 Homens e um Novo Segredo (e derivados).

Ademais, há uma boa variedade de veículos e até missões com pistas de corrida. Ainda não joguei tudo e torço que ainda tenha muito por vir. Até lá, garanto que já me diverti bastante com Teardown e valeu cada centavo investido.

Um profissional em demolição

A progressão é muito bem nivelada com os níveis atingidos pelo jogador — que ainda não sei se são atrelados às missões secundárias concluídas nos contratos. Cada nível dá algum bônus; entre elas, ferramentas novas, como shotguns, revólveres, explosivos arremessáveis, C4 e outros que ainda não descobri — e todos com upgrades que podem ser adquiridos pelo computador do game.

Por se tratar de um playground, Teardown dá abertura para infinitas abordagens. Quando me dei conta de que meu estilo de demolição e roubo são únicas, vislumbrei a real beleza do game. Fazer as missões sem procurar por tutoriais em qualquer lugar é o ideal, dando total liberdade para a própria noção de planejamento.

Planejamento é crucial para a execução de um plano. (Fonte: Teardown/Divulgação)

O contrato que mais gosto de lembrar foi um que eu deveria detonar vários barris com gás explosivo em um determinado tempo. Todos eles estavam presos à barras de ferro nas paredes e distantes uns dos outros. Na ocasião, o único alarme do local detectava apenas explosões de grandes proporções — nesse caso, a dos barris.

Daí me veio a ideia: “e se eu reunisse todos os barris em um único local e utilizasse um explosivo para detonar todos eles simultaneamente e logo escapar?”. Acredite, deu certo! Demorou uns longos 30 minutos para pegar cada frágil barril e levar para o local determinado, próximo do veículo de fuga. Os recipientes eram delicados e pancadas mais bruscas explodiam tudo e o plano ia para o ralo. Partindo disso, usei e abusei dos saves. A observação e planejamento podem ter sido demoradas, mas a execução levou apenas 0,2 segundo.

Ray Tracing para o mundo!

Depois de passar por algumas das missões, enalteci o zelo da Tuxedo Labs na introdução de detalhes dos ambientes e em toda a beleza de cada cenário. Como o Digital Foundry detalha muito bem em vídeo, todo o game usa iluminação em uma curiosa aplicação de Ray Tracing — lindíssima, por sinal — que se encaixa muito bem nesses ambientes destrutíveis.

O motor gráfico de Teardown toma conta da iluminação de forma magistral e de forma coerente com a temática do game. Tudo é feito em tempo real, com um intenso trabalho de filtros, iluminação volumétrica, oclusão do ambiente e reflexos. A aplicação permite que ela seja executada até em placas gráficas sem núcleos dedicados para traçado de raios, mas a custo de quadros por segundo em todos os casos.

Teardown Is Stunning: Next-Generation Physics + Lighting!

Esse fator já torna Teardown uma obra de arte. Cada localidade que o jogador visita é um colírio para os olhos. Cada material responde à luz de forma precisa, ao lado de um poderoso mecanismo para oclusão de ambiente em contato de objetos. O reflexo, por sua vez, também é calculado em tempo real e tira as cores de objetos fora da tela para poupar processamento, o que somado aos horários dos trabalhos acaba sendo uma solução genial para deixar tudo maravilhosamente lindo.

Além disso, não posso esquecer das mudanças de clima para cada missão. Às vezes, chove, e tudo fica mais brilhante e escorregadio que o normal. Quando no entardecer, o ambiente fica bem alaranjado, com uma grossa névoa que permeia as salas.

(Fonte: Teardown/Divulgação)

Poderia gastar mil horas aqui descrevendo a sensação de solidão proporcionada pelo game, já que o jogador nunca encontra nenhum outro NPC (tampouco se vê na tela). É tudo meio sem explicação. As missões são apenas a parte final de uma investigação minuciosa para entrar num local totalmente vazio, cumprir o objetivo e escapar antes que o helicóptero da polícia te encontre.

Teardown é uma obra brilhante destinada a nova geração, considerando os refinados visuais e natureza dinâmica em voxels. Deve passar despercebido por muita gente, mas vale ficar de olho por novidades e eu torço que ele faça barulho. Aos responsáveis pelo game da Tuxedo Labs, meus sinceros parabéns. Já aos curiosos, a dica: Teardown está em promoção na Steam e sai por menos de R$ 40 na loja (e ainda em acesso antecipado).

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Por Igor Almenara

Redator do Canaltech e colaborador do Jornal dos Jogos em reviews, notícias, artigos e outras coisas mais. Estudante de Engenharia da Computação na UERJ e fissurado pelo mercado tech, games e hardware.