Desde que foi apresentado na Xbox Showcase de 2020, The Medium voou abaixo do meu radar por um simples motivo: eu tenho muito medo de jogos de terror. Um dos principais pontos de venda do projeto da Bloober Team é a trilha sonora produzida por Akira Yamaoka, que trabalhou nas músicas de Silent Hill, meu maior pesadelo no mundo dos games.
Apesar de não ser um entusiasta da icônica franquia da Konami, ainda existiam dois pontos que mantinham meu interesse em The Medium. O jogo é o primeiro grande lançamento para o Xbox Series X/S e tem requisitos monstruosos, sendo um dos primeiros exemplos do potencial gráfico da nova geração. Além disso, como o nome indica, a produção do estúdio polonês conta com uma temática inspirada na doutrina espírita. Pra quem não está tá ligado, eu sou um entusiasta de assuntos religiosos.
Dito isso, enfrentei meus traumas com jogos de terror e descobri que, no final das contas, The Medium não é tão assustador assim. Na verdade, os principais fantasmas que assustam Marianne são baseados em temas presentes na vida de muita gente.
Eu vejo gente morta
The Medium coloca o jogador na pele de Marianne, uma mulher que possui poderes mediúnicos e consegue entrar no mundo dos espíritos, uma realidade alternativa em que almas com negócios inacabados ficam presas após a morte. Assim como na religião espírita, a protagonista utiliza seu dom para ajudar os seres errantes a finalmente encontrarem a paz.
O conceito fica bem claro logo nos primeiros minutos de gameplay. Enquanto bebe uma xícara de chá, Marienne nos conta sobre a morte de seu pai adotivo, Jack, que era dono de uma funerária. Durante a jogabilidade, podemos acompanhar a jornada da protagonista e entrar no mundo dos espíritos para finalmente enviar o senhorzinho para a luz.
A história se desenvolve após uma ligação misteriosa dizendo para a protagonista ir até um Hotel abandonado e que foi local de uma grande catástrofe. Como dá pra imaginar, a rotina de uma médium fica bem movimentada ao visitar um local mal-assombrado e que foi palco de uma grande tragédia com dezenas de mortos.
Realidade dupla
Para dar um ar de tensão para o além-vida, a Bloober Team se inspirou nas artes do pintor Zdzisław Beksiński: o mundo surrealista traz ambientes devastados e um tom sépia que traz tristeza e melancolia ao gameplay. Além disso, temos criaturas deformadas e antropomórficas habitando a realidade que coexiste com o nosso mundo dentro do misterioso Hotel Niwa.
A ambientação, aliada à temática do game, cria um clima perfeito de tensão, que fica ainda mais nítido nas sequências que misturam o mundo real e dos espíritos. Você já teve aquela sensação de que existe alguma coisa te observando? O objetivo da tela dividida é te fazer crer que essa dualidade está sempre presente, ao seu redor.
Esse clima de tensão gerado pelo ambiente faz The Medium escapar do terror barato dos Jumpscares. Durante toda minha jornada no game, só me assustei com algo pulando na minha tela uma única vez. Essa característica aproxima o game de projetos como Alan Wake, que também traz uma temática de terror, mas coloca a história em primeiro lugar.
Traumas (e fantasmas) reais
O foco na história quer dizer que The Medium não assusta? Definitivamente não. Os monstros que habitam o mundo dos espíritos são horripilantes e, mais do que isso, trazem profundidade.
Todos os vilões que você enfrenta no mundo dos espíritos de The Medium são frutos de traumas de pessoas reais que passaram pelo Hotel Niwa. Uma infância difícil, uma morte inesperada, um caso de abuso, uma vida marcada por depressão: tudo é combustível e pode criar um ser monstruoso.
Não é complicado fazer uma ponte da temática com a vida. Afinal, pessoas passam diariamente por situações traumáticas e nem todo mundo busca por auxílio para lidar com isso. Em muitos casos, a solução mais fácil é internalizar o problema, o que pode gerar paranoias tão grandes quanto os seres que assombram o Hotel Niwa.
O novo projeto da Bloober Team mostra esses problemas psicológicos de uma maneira bastante visual. Fantasmas que são comuns na nossa sociedade ganham rosto e forma para perseguir o jogador. Como armas não machucam almas, você precisa usar seus poderes de “terapeuta espiritual” para acabar com as ameaças.
Não é difícil encontrar artes na internet que transformam sentimentos ruins em monstros, e The Medium faz esse trabalho usando os games. Em uma história bem amarrada de aproximadamente 10 horas, o game te leva em uma viagem espiritual em um universo cheio de originalidade, mas consegue trazer reflexões sobre como encaramos os fantasmas que nos afligem na vida real.
THe Medium está disponível no PC, Xbox Series X e S. O preço do game é R$ 166,45, mas é possível jogá-lo pela assinatura Xbox Game Pass no computador e também consoles.
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