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The Medium é um ótimo jogo que chegou na hora errada – Análise

Produção da Bloober Team traz narrativa com pegada cinematográfica e ambientes imersivos para o PC, Xbox Series X e S

Após ser adiado por causa de Cyberpunk 2077, The Medium chega ao mercado com um peso que não deveria carregar. Mesmo sendo um jogo independente, a produção da Bloober Team é um dos primeiros grandes lançamentos para o Xbox Series X e S, o que transformou o jogo em munição para uma guerra de consoles que não faz mais sentido.

Parte da culpa disso cai no colo da Microsoft. Halo Infinite foi adiado e a empresa escorou o lançamento de seus novos consoles em versões atualizadas de jogos do Xbox One. No caso de Medium, a parte técnica do game acabou ganhando destaque em materiais de divulgação, principalmente o gameplay em tela dividida.

The Medium - Dual-Reality Gameplay Showcase

A situação piora ainda mais quando vemos as principais inspirações utilizadas pela Bloober Team na concepção do game. A empresa utiliza em The Medium uma câmera similar aos primeiros títulos da saga Resident Evil e chamou ninguém menos que o principal compositor das músicas de Silent Hill para fazer a trilha sonora do jogo.

Com tantas informações, certamente você já montou uma imagem de The Medium em sua mente. Após zerar o game no Xbox Series X e também jogar a versão de PC, venho informar que o jogo possivelmente não é o que você está imaginando — e é exatamente isso que faz o projeto da Bloober Team ser tão brilhante.

Terror pacifista

Apesar de ser inspirado em grandes clássicos do gênero survival horror, The Medium é tranquilo demais para se encaixar nesse gênero. Isso não quer dizer que o jogo não é assustador. Ao invés de jogar hordas de inimigos na sua cara, o projeto aposta em uma ambientação bastante imersiva para gerar um clima de suspense, com mecânicas focadas principalmente no stealth e defesa.

Ao invés de brigar com criaturas sobrenaturais na base da bala, o jogo te coloca para entender os motivos da existência de cada ameaça. Nada de armas ou tiros. Em The Medium, os terrores e problemas são psicológicos, o que pode ser mais assustador que uma horda de zumbis.

A premissa do projeto da Bloober Team certamente não é tão interessante comercialmente quanto um Resident Evil Village da vida; mas não se engane: The Medium é o melhor jogo focado em história disponível para os novos Xbox atualmente e uma grande adição ao Xbox Game Pass de PC, mesmo com os requisitos nada amigáveis para computador.

Espíritos entre nós

Se você possui algum interesse por religiões, já deve conhecer os interessantes conceitos da doutrina espírita, que é bastante popular no Brasil. The Medium não apenas pega emprestado temáticas como conversar com mortos, mas pavimenta um universo inteiro em cima dessa ideia.

The Medium é protagonizado por Marianne, uma mulher que possui habilidades mediúnicas e consegue se comunicar com o mundo dos espíritos. Utilizando seu dom, ela entra na dimensão alternativa que abriga pessoas mortas que ainda não conseguiram desapegar do plano terreno.

Nós conhecemos a personagem em um dia complicado. Após perder seu pai adotivo, Marianne recebe uma misteriosa ligação dizendo para ela ir até o Hotel Niwa, um resort isolado na Polônia que foi local de um massacre. Segundo o interlocutor do telefonema, o cenário da catástrofe possui respostas para um pesadelo que assombra a médium desde sua infância: a visão de uma garota correndo na floresta e morrendo após tomar um tiro.

A combinação de uma protagonista que vê espíritos com um hotel mal-assombrado e cheio de gente morta renderia vários jumpscares, correto? Felizmente, não é o caso de The Medium. Ao chegar no Hotel Niwa, Marianna utiliza seu sexto sentido para encontrar o homem da ligação e acaba descobrindo segredos obscuros sobre si mesma, enquanto ajuda almas que ficaram presas no local.

The Medium - It Came From the Rage

As habilidades mediúnicas da protagonista são traduzidas com maestria para o gameplay, com o propósito primordial de alavancar a história. No mundo dos espíritos, ela consegue manipular energia e conversar com resquícios de almas mortas. Já na “terra normal”, a protagonista utiliza seu sexto sentido para investigar detalhes da vida da pessoa.

Ao unir as informações, Marianna ajuda os fantasmas a irem para um lugar melhor. É isso mesmo, galera: em 99% do tempo, você está trabalhando para AJUDAR e resolver os problemas de pessoas mortas. Tudo isso em um visual cinematográfico e com baixos níveis de ação, mas com um clima de suspense te rodeando o tempo todo.

Narrativa cinematográfica

Cuidado, pequenos spoilers à frente!

Enquanto ajuda almas e descobre a verdade sobre si mesma no Hotel Niwa, a personagem também conhece o grande responsável por toda a tragédia do local: uma força maligna conhecida como Maw.

Dublado por ninguém menos que Troy Baker, o vilão nem mesmo precisa aparecer para fazer você sentir arrepios. A Bloober Team usa ambientação e um trabalho brilhante de trilha sonora para dar vida ao espírito no mundo real, enquanto Marianne encara um ser demoníaco no mundo dos espíritos.

Prossiga em segurança nos próximos parágrafos.

O terror do vilão cresce exponencialmente no decorrer da história, já que o game sempre coloca a narrativa em primeiro lugar. Ao explorar o Hotel Niwa e a vida de seus ex-moradores, o jogador é presenteado com algo ainda raro no Xbox: uma narrativa cinematográfica de alta qualidade.

Em cerca de 10 horas, o jogo entrega um universo cheio de possibilidades, viradas interessantes na história e personagens cativantes. Toda a narrativa é encerrada com um final que liga os pontos que o jogador caça durante o gameplay e traz um desfecho satisfatório e que abre ainda mais possibilidades para novos projetos nesse mesmo mundo.

The Medium estava cercado por tanto hype que eu imaginei (e possivelmente outras pessoas também) que o jogo seria bem maior, teria aqueles puzzles cheios de exploração e segmentos desenfreados de ação. Para o bem da originalidade, a Bloober Team resolveu seguir um caminho diferente.

Direto ao ponto

The Medium é um jogo de terror com câmera fixa, focado em atmosfera e narrativa. Com um level design primoroso, o game é feito sob medida para o papel de apresentar uma história e construir um universo — e faz isso muito bem. Se você quer algo a mais do que isso, infelizmente vai se decepcionar, mas aí a culpa recai nas expectativas criadas em cima do jogo.

Em um mundo repleto de lançamentos diários no mundo dos games, fazer um jogo de terror com história marcante e que funciona até com quem não curte muito o gênero pode parecer pouco; contudo, basta fazer um testezinho rápido: se você entrar na Steam agora, não levará muito tempo para encontrar um game de terror em primeira pessoa, cheio de puzzles feitos para serem muito complexos e com ferramentas para fazer o gameplay render. Se duvidar, você acaba caindo num jogo feito pela própria Bloober Team com essas características.

The Medium não é o sucessor espiritual de Silent Hill e nem um Resident Evil antigo com gráficos atualizados. The Medium é… The Medium, um jogo que bebe de muitas fontes para criar algo único e cheio de originalidade.

Com seu jeito diferente, The Medium possivelmente vai passar despercebido por muitos jogadores simplesmente por fugir de certos padrões. Porém, esse é o seu maior diferencial. Em um mundo onde jogos são cada vez maiores, The Medium prefere fazer o básico de uma forma bem feita, direta e marcante.

Além de estar disponível para compra no PC e Xbox Series X e S, The Medium chega ao Xbox Game Pass no dia de seu lançamento no serviço para consoles e computador.


A Xbox Brasil forneceu acesso antecipado ao game para o Jornal dos Jogos.

Por Mateus Mognon

Jornalista formado na UFSC e criador do Jornal dos Jogos, veículo que reúne as principais notícias de games com curadoria e aquele "jeito moleque" de escrever.