A franquia Resident Evil possui mais de 100 milhões de jogos vendidos e renome global, mas conta com um toque de popularidade especial no Brasil. Além de ter uma comunidade ativa no país com criadores de conteúdo como Resident Evil Database, alguns brasileiros movimentam os mods dos games da série. E eles estão ansiosos por Resident Evil Village, que está ganhando notoriedade por causa de uma vilã, a gigantesca Lady Dimitrescu.
Quem acompanha notícias sobre os jogos da franquia certamente já deu de cara com vídeos mostrando personagens inusitados em Resident Evil. As modificações mais populares trocam antagonistas como Mr X e Nemesis por grandes ícones da cultura pop. As substituições vão desde o palhaço Pennywise até figuras excêntricas para o universo de zumbis, incluindo Pikachu e Terry Crews com gorro de Papai Noel.
O brasileiro Marcos RC, que já é uma figura conhecida na cena de modificações de Resident Evil, é responsável por boa parte dessas obras. Além de ter feito mods engraçadas para os novos games da Capcom, o artista 3D também publica trabalhos com teor mais estético. As obras incluem novas skins para os protagonistas dos jogos e até produções 100% adultas.
O desenvolvedor de 23 anos publica suas criações em sites como o Nexus Mods e redes sociais, bem como em um canal pago no Patreon. Segundo Marcos, as doações garantem uma renda extra, mas o artista fica grato mesmo é com a recepção positiva da comunidade.
A prática de modificar para Resident Evil não é algo novo. Graças à influência de um amigo, Marcos trabalha com mods para os jogos da Capcom desde 2012. “Eu achei lindo como ele modificava o jogo e deixava tão bonito, os personagens, os cenários”, explicou o artista.
Anos de trabalho
Uma das principais inspirações para Marcos RC foi outro brasileiro, o Roger “DarknessValtier“, que possui mais tempo nessa estrada. Assim como muitas pessoas no começo dos anos 2000, Valtier tinha internet discada em sua casa. Após uma queda brusca de conexão, ele resolveu fuçar em um CD que possuía ferramentas de modificação. O que começou como uma simples curiosidade virou um hobby que dura até hoje, e tudo por causa dos jogos da Capcom.
“Tudo começou porque eu queria jogar com a Rebecca no lugar da Jill em Resident Evil 1”, conta DarknessValtier. Após conseguir personalizar a protagonista do game, o fã da franquia de zumbis continuou fazendo trocas de modelos nos primeiros jogos da saga. O trabalho foi ganhando mais força e complexidade com o passar do tempo, o que garantiu reconhecimento.
DarknessValtier é criador de mods famosos como Ellie em Resident Evil 2 e a versão clássica da Jill em Resident Evil 3 Remake. Os trabalhos foram tão longe que ganharam comentários de Neil Druckmann, diretor de The Last of Us, e por Julia Voth, a atriz que dava vida para a protagonista do RE3 original.
O experiente criador de mods brasileiro disse que não esperava tanta repercussão de alguns mods. Porém, o apoio da comunidade e de desenvolvedores mostra que o trabalho está em um nível profissional.
O público também apoia DarknessValtier por meio do Patreon, mas, assim como Marcos RC, ele continua no jogo pelo público. “Perco horas e dias na frente do PC fazendo mod pra galera se divertir”, explica DarknessValtier.
Modificando jogos da Capcom
O desenvolvimento de mods é uma prática popular, mas nem todas as empresas apoiam que os arquivos de seus jogos sejam editados pela comunidade. Enquanto empresas como Rockstar Games são mais incisivas, a Capcom parece ser mais tranquila com as modificações, o que incentiva o pessoal a continuar produzindo novidades. Entramos em contato com a companhia e a assessoria disse que não comenta oficialmente sobre esse assunto, mas não existem grandes casos da empresa processando usuários por modificações ou artes, como acontece com a Nintendo.
Além da Capcom não acionar as autoridades para cima dos fãs, a RE Engine, o motor gráfico utilizado nos jogos da companhia, é amigável para o desenvolvimento de mods. Com isso, além de Resident Evil, jogos como Devil May Cry V também recebem conteúdos personalizados pela comunidade, incluindo crossovers inesperados como CJ do GTA substituindo Dante.
“A RE Engine aceita praticamente tudo”
– DarknessValtier
Segundo DarknessValtier, fazer mods atualmente ainda dá trabalho, mas é consideravelmente mais fácil que antigamente. “Apesar de os gráficos estarem cada vez melhores e mais realistas, modificar acabou ficando mais fácil, pois a gente não estava mais limitado ao que as engines antigas dos jogos suportavam”, explica o desenvolvedor.
Antigamente, os motores gráficos possuíam limite de texturas, polígonos e animações, o que acabava atrapalhando os modders e dificultando a implementação de ideias mais criativas. “A REengine aceita praticamente tudo sem limitação por software”, diz o DarknessValtier.
Resident Evil Village terá mods rapidamente
Mesmo com as facilidades, o processo de fazer um mod para Resident Evil ainda exige um tempo. Para sanar a dúvida da galera que está sedenta por Resident Evil Village, perguntamos para os especialistas uma estimativa de quando devem sair as primeiras modificações para o jogo da Lady Dimitrescu.
De acordo com DarknessValtier, o maior obstáculo presente nos jogos da Capcom é a codificação, que exige engenharia reversa para desmontar os arquivos e implementar mods. No entanto, quando essa barreira é ultrapassada, a criação fica mais simples.
Segundo Marcos RC, a comunidade conseguiu decifrar os códigos e fazer mods para o beta de Resident Evil RE: Verse, que ficou disponível por tempo limitado pela primeira vez entre 8 e 11 de abril. Em seu canal do YouTube, o desenvolvedor brasileiro até mostrou como seria Kratos, de God of War, dentro do multiplayer.
Como o modo online foi modificado com tanta agilidade, a tendência é que as personalizações para Resident Evil Village não demorem muito tempo para aparecer, já que a base de desenvolvimento é a mesma. Marcos estima que as novidades devem começar a aparecer ainda na primeira semana após o lançamento.
Um fator que pode acelerar o processo de produção de mods é a demonstração de Resident Evil Village, que será lançada no PC em 1° de maio, com uma hora de duração, e ficará disponível até o dia 9. A comunidade de modders poderá acessar o conteúdo por bastante tempo na Steam, o que pode ser tempo suficiente para desbloquear as travas de tempo. “A Capcom não lança essa demo pro PC logo porque sabe o que vai acontecer”, disse DarknessValtier. “Não tem como evitar”.
Quanto tempo demora para um mod ser feito?
Em relação ao tempo necessário para um mod ser feito, Marcos RC nos contou sobre seu processo de produção e disse que é possível realizar o trabalho com cerca de 3 a 5 horas de dedicação, dependendo dos detalhes e testes extras, com a produção dividida em etapas. “Um dia tiro tempo para criar pose, em outro dia fazer remap, rigging, o outro dia fazer correções no mod e finalizar”, explica o desenvolvedor.
Os modders já estão se preparando para a chegada de Resident Evil Village
O processo de criação pode ser mais demorado se o desenvolvedor fizer tudo do zero, como criar um modelo 3D para ser implementado no game. Por outro lado, também é possível baixar modelos prontos para aplicação ou usar obras prontas, o que agiliza o trabalho. Os próximos passos incluem a remapeamento e o rigging, que adiciona um esqueleto para o conteúdo receber animação no jogo. Em seguida, é necessário exportar e testar, o que também leva um tempo.
Porém, como as expectativas para Resident Evil Village estão altas, a galera já está adiantando ideias para lançar novidades assim que possível para o jogo da Lady Dimitrescu. “Pretendo portar alguns mods que já fiz para Resident Evil 3 Remake e até penso em adicionar o “Executioner” do Resident Evil 5, acho que ficará show no Village”, explica Marcos RC.
Quanto aos conteúdos adultos, os especialistas apontam que possivelmente veremos muitas modificações voltadas para o público com mais de 18 anos. Apesar de as políticas da Capcom não apoiarem o uso de mods sexualmente explícitos em vídeo, os desenvolvedores apontam que o “amor da comunidade” pelos personagens deve estimular a criação de conteúdos do tipo, e de maneira rápida.
Como começar a fazer mods?
Se você quer aproveitar a onda da Lady Dimitrescu para entrar no mundo dos mods, os criadores de conteúdo brasileiros possuem algumas dicas. Apesar de o processo parecer complexo, os modders experientes dizem que os interessados podem aprender estudando o assunto e tentando. Marcos até possui alguns tutoriais que podem ser baixados de graça para ajudar quem está começando.
O criador de mods ainda recomenda que os novatos estudem ferramentas de texturas e arquivos do jogos, importação de modelos e gerenciamento de modificações. Marcos também diz para os iniciantes não terem medo de se enturmar com a galera que manja do assunto e visitar grupos do Discord para trocar ideia com outros desenvolvedores.
Além de estar aberto para aprender, também é necessário ter paciência. Segundo DarknessValtier, que já possui anos de experiência na área, os erros sempre vão acontecer, e é preciso ter tranquilidade para sempre continuar seguindo. “Você vai fica p*to, vai perder os cabelos”, diz o desenvolvedor. “Todo dia vai aparecer um bug ou glitch diferente, mas se você não se acalmar, relaxar e pensar, nunca vai progredir.”
Resident Evil Village chega em 7 de maio no PC, PS4, PS5, Xbox One, Xbox Series X e Series S. Confira os preços e requisitos para rodar o game.
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