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Na nova geração de consoles, como fica o gamer de PC?

A introdução de novos consoles marca um momento grandioso para toda a indústria; mas como um PC gamer é encarado nesse momento?

A transição de geração de consoles é um grande marco na indústria de games como um todo. Os novos dispositivos das gigantes Sony e Microsoft normalmente travam uma disputa acirrada pela carteira do consumidor. No PC, o cenário segue outro ritmo, mas o que significa ter uma nova line up de videogames no mercado?

Na atual transição, os efeitos ainda estão discretos. Ainda são poucos os jogos que extraem o máximo dos próximos consoles e aqueles que o fazem não serão lançados para o PC. Do PlayStation 5, o Spider-Man: Miles Morales, Sackboy: a Big Adventure e Demon’s Souls serão poderosos títulos para demonstrar o poder do console. Enquanto isso, no Xbox Series X e S, os exclusivos só chegarão em 2021, restando apenas títulos third-party até o fim do ano.

Um início morno

Sendo assim, o mercado caminha em marcha lenta nestes últimos dois meses de 2020. Grandes lançamentos foram empurrados para o começo de 2021, seja devido às complicações da pandemia no fluxo de trabalho, ou influenciados pelo adiamento surpresa de Cyberpunk: 2077. Os pratos que ainda serão servidos são títulos crossgen e com ambições esperadas, como Watch Dogs: Legion, Assassin’s Creed: Valhalla e próximos lançamentos, incluindo o Call of Duty: Black Ops Cold War.

Nenhum desses nomes carrega consigo o aproveitamento das tecnologias exclusivas da nova geração, a não ser o hardware significativamente mais potente; contudo, já demonstram impactos no PC. Como foi muito bem descrito pelo Digital Foundry, apresentado em lives do Adrenaline e em outras gameplays demonstrativas, os títulos de crossgen lançados recentemente tem se mostrado mais exigentes desempenho — e os donos de placas Nvidia GTX 1000 estão sentindo os primeiros sintomas da defasagem.

Além da impossibilidade de aproveitar o Ray Tracing sem reduzir seus quadros drasticamente, os jogos mais recentes da Ubisoft apresentam comportamento incomum no PC. Ambos não parecem estar escalando bem componentes diferentes, permanecendo na casa dos 30~40 quadros em vários cenários e configurações.

Os efeitos mais graves são mais evidentes nos hardwares mais antigos e naqueles tido como mais “humildes”

Admito que isso possa ser sinal de má otimização. No entanto, os efeitos graves são mais evidentes nos hardwares mais antigos ou naqueles tidos como mais “humildes” — como a GeForce GTX 1660 e GTX 1650. Basta assistir partes dos vídeos do canal Gentleman para perceber que a situação está bem grave para o hardware intermediário — até mesmo na resolução Full HD.

Assassin’s Creed Valhalla | RTX 2060 Super + Ryzen 5 3600 | All Settings | 1080p 1440p

A RTX 2060 Super, como ele demonstra nesse vídeo, fica balançando nos 60 quadros, caindo para a casa dos 55 ou menos em alguns instantes. A única condição que a placa alcança pelo menos os 90 quadros é quando configurado na qualidade média. O que seria isso?

Na humilde opinião do autor, esses são os primeiros sinais de que os desenvolvedores estão nivelando os games por cima, contando com o poder do hardware dos novos consoles; se não isso, a performance inferior no PC também poderia ser um reflexo do descuido dos ports para computador, algo que acontecia com frequência anos atrás e que voltou a acontecer em Horizon: Zero Dawn.

Podem dizer: “Ah, mas é da Ubisoft, o jogo é ‘bugado’”. Compreendo o argumento e espero que esteja correto. Ainda assim, me mostro receoso por outros indícios, como os requisitos mínimos do ignorado Godfall.

Muita areia para o caminhãozinho

Para rodar essa belezinha, os desenvolvedores exigiram um sistema composto por um AMD Ryzen 5 1600 / Intel Core i5 6600; 12 GB de memória RAM e uma GPU Nvidia GeForce GTX 1060 ou Radeon RX 580. Parece ok, não é? Com um porém: essa configuração é o mínimo para rodar o game; os recomendados determinam um Ryzen 5 3600; i7 8700 e GTX 1080 Ti (!!) ou uma Radeon RX 5700 XT (!!!).

Os componentes listados estão longe de serem razoáveis, considerando que compõem um setup tão caro quanto um console de nova geração. Ademais, mesmo que os desenvolvedores não tenham revelado qual a capacidade dessa configuração recomendada, é um sinal alarmante — se não um claro sinal de preguiça — para o jogador de PC, cuja imensa maioria ainda conta com uma GTX 1060 6 GB nas suas máquinas (10.48% dos jogadores, número significativamente maior que qualquer outra placa segundo Steam Hardware & Software Survey).

Godfall - Combat Trailer | PS5
E Godfall não é o único: The Medium também traz a GTX 1060 em seus requisitos mínimos no PC

O cronograma de lançamentos de hardware do PC causa significativa segmentação. Ainda assim, é evidente que o gamer de PC ainda se apoia em hardware para resolução Full HD superior aos consoles de 8ª geração — excluindo as variantes Xbox One X e PS4 Pro. Quando tratada como requisito mínimo, a placa mais popular apresenta claros sinais de cansaço, sendo obrigada a reduzir os gráficos para qualidade média para alcançar os 60 quadros.

Seria esse o momento para fazer um upgrade?

De forma sucinta, esse é um indicativo de que é hora do upgrade, e isso não poderia acontecer numa hora melhor (contém ironia). A alta do dólar levou o valor de hardware de computador para o espaço e não há previsão de redução para valores pré-pandêmicos, nem mesmo sobre o poder da Black Friday. Então, o PC gamer com hardware antes intermediário sofre e chora em silêncio no fim de 2020.

Para os gamers com a carteira preparada para as novas exigências, por outro lado, esse é um momento mágico. É agora que as estreias levarão seu hardware para o limite com as tecnologias gráficas mais recentes: Ray Tracing em tempo real, Nvidia DLSS, texturas de altíssima qualidade, suporte a resoluções maiores e muito mais. Neste caso, é aí que o PC continua brilhando e sempre brilhará.

A opção mais barata entre os lançamentos, a GeForce RTX 3070, está saindo das varejistas por valores acima de R$ 4.500. (Fonte: Nvidia/Divulgação)

Um abraço do tio Phil

Além disso, pela primeira vez em toda a história, uma das grandes competidoras do mercado de consoles incluiu o PC no seu ecossistema. Como Phil Spencer já disse inúmeras vezes: “todo exclusivo de Xbox chegará ao PC”, e isso é um alívio para a comunidade que prefere a sua máquina pessoal ao console da Microsoft. E olha, é um carinho muito bem-vindo, principalmente pela presença do Xbox Game Pass.

Seguindo a mesma linha, o maravilhoso controle para Xbox também é compatível com o PC direto da caixa. É plugar e jogar, com compatibilidade direta com o Windows 10. Dispensando softwares de terceiros, drivers especiais e procedimentos extras. É um agrado, também extremamente positivo, nos aproximando da experiência do console e pavimentando o caminho para o conforto de jogadores que preferem essa ferramenta (como deste que vos fala).

A Sony segue ignorando a gigante comunidade do PC.

A Sony, por sua vez, segue ignorando essa gigante comunidade. Ainda não há pronunciamentos satisfatórios sobre a compatibilidade do DualSense no PC. A marca as resumiu a “o controle será compatível com o PC”, sem mencionar a distribuição de drivers ou compatibilidade com recursos inéditos do controle. Ademais, tampouco há qualquer menção a port de mais exclusivos, além dos já cedidos Death Stranding e o Horizon: Zero Dawn.

Death Stranding do PC contava com referências cosméticas à grandiosa franquia Half Life. (Fonte: Sony/Reprodução)

Ainda é cedo para presumir que a Sony seguirá com a mesma postura restritiva sobre seu console, acessórios e games. Até o lançamento oficial do PS5, não seria justo afirmar que o DualSense é limitado no PC — mesmo que vários vídeos já tenham demonstrado o trabalhoso processo de sincronização dentro e fora da Steam.

Particularmente, o DualShock 4 me cativou. O controle me proporcionou horas e horas de gameplay cabeada ou por meio de conexão Bluetooth; possibilitou jogatina multiplayer local ao lado da minha namorada e colegas e me tornou fã de jogos no estilo “Party”. Partir para o DualSense seria um avanço natural, mas devido a ausência dos recursos, acho que finalmente será o momento de migrar para o controle de Xbox.

É pedir demais ter o feedback háptico no PC? (Fonte: Sony/Reprodução)

A esperança é a última que morre

Como integrante da comunidade do PC, espero que a Sony mude a postura sobre seu ecossistema, e acredito que este seja o caminho para ela se tornar menos seletiva e “cinema”, para alcançar o almejado patamar de “Disney+ dos games” (como brilhantemente descrito pelo Mateus Mognon). Felizmente, meu upgrade para as placas GeForce RTX foi feito com certa antecedência e me vejo livre dos males oriundos de ports ruins, mas torço que os desenvolvedores não esqueçam da existência de uma das placas mais adoradas da comunidade e que continuem tornando games acessíveis para vários níveis de performance.

O Jornal dos Jogos já garantiu seu ingresso para a nova geração e publicou uma bela análise sobre o Xbox Series X.

A nova geração começa oficialmente hoje (10) com o lançamento do Xbox Series S e Series X. Os próximos meses serão lentos e com experiências restritas aos títulos retrocompatíveis, mas o futuro dos próximos consoles é promissor e devemos aguardar para testemunharmos seus desdobramentos.

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Por Igor Almenara

Redator do Canaltech e colaborador do Jornal dos Jogos em reviews, notícias, artigos e outras coisas mais. Estudante de Engenharia da Computação na UERJ e fissurado pelo mercado tech, games e hardware.