Enquanto todo mundo discute Fable e os gráficos de Halo Infinite, o serviço que pode mudar a “guerra dos consoles” passou despercebido
O ano de 2020 já passou da metade, julho se encaminha para o fim e os dois consoles de nova geração finalmente mostraram o que tem para oferecer aos consumidores. Em junho, a Sony realizou uma transmissão focada no PS5 mostrando jogos como Spider-Man Miles Morales e um novo Horizon. Agora, chegou a vez da Microsoft apresentar seu arsenal, que inclui Forza Motorsport, o aguardado renascimento da franquia Fable, uma espécie de Skyrim feito pela Obsidian e Halo Infinite, que gerou bastante assunto na internet.
A dona do Windows 10 abriu seu evento com um vídeo bastante cinematográfico de Halo Infinite, que foi seguido de uma longa demonstração de gameplay. Enquanto a jogabilidade agradou fãs, os gráficos, por outro lado, não serviram em nada para mostrar o potencial do console de nova geração.
O carro-chefe do lançamento do Series X apareceu rodando em um PC ao nível do console, segundo a Microsoft, mas a falta de acabamento gerou uma série de críticas e memes. Se você deu uma volta pela internet nos últimos dias, com certeza deu de cara com Craig, o inimigo com cara de “oi casada”, e aquela screenshot oficial mostrando um ambiente que definitivamente merecia mais atenção.
A Microsoft já aceitou a situação, disse que os gráficos representam um trabalho em progresso e que o visual de Halo Infinite vai melhorar até o lançamento, que rola no fim do ano. Ou seja, ainda vai demorar um tempo para vermos se o título realmente tem algo a mais para oferecer ou se o lançamento cross-gen vai segurar o visual do projeto.
Saindo de Halo, os outros games dos estúdios da Microsoft apareceram com teasers empolgantes, mas que nem sempre dão uma noção clara do poderio do Series X. Enquanto o novo Forza foi revelado rodando in-engine de maneira bela, mas rápida, jogos como State of Decay 3 e Fable impressionaram, mas deixaram algumas dúvidas sobre o que está vindo por aí.
Nesse cenário, a dica é “gerenciar as expectativas” e não deixar a conversa sobre gráficos desviar a atenção do aspecto mais relevante da apresentação da Microsoft: você poderá jogar Halo Infinite e todos os outros jogos presentes no evento do Xbox com a assinatura Game Pass.
A estrela renegada do show
Enquanto todo mundo estava de olho nos trailers, a Microsoft constantemente repetia uma frase, que também aparece na descrição de alguns vídeos publicados no canal da marca: os títulos revelados no evento poderão ser jogados com a assinatura Xbox Game Pass Ultimate. A empresa não revelou nenhuma grande novidade durante a apresentação voltada especificamente para o serviço, mas a ênfase dada para o crescimento do catálogo mostra que a plataforma é decisiva para o futuro do Xbox.
A partir de setembro, o Xbox Game Pass Ultimate ganhará integração gratuita com o xCloud, serviço de streaming que permite rodar games em celulares, tablets e, futuramente, computadores fracos e outros dispositivos. Assim como Google Stadia e GeForce Now, todo o processamento é feito na nuvem e você só precisa de uma conexão de internet maneira para “segurar o tranco” do gameplay.
O diferencial do xCloud em relação aos seus competidores está em seu ecossistema. O serviço já vai chegar ao mercado sendo compatível com todo o catálogo do Game Pass e os usuários só precisarão pagar a mensalidade estilo Netflix para ter uma grande variedade de jogos disponíveis na palma da mão.
O Game Pass Ultimate se tornará
independente de um console ou PC
Para os usuários do Game Pass/xCloud que quiserem evitar o lag, o Xbox Series X se torna uma compra interessante, já que complementa a experiência. O console permite rodar os jogos do catálogo de maneira offline, com gráficos em 4K e até 120 frames por segundo.
Ou seja, para quem está disposto em só jogar na nuvem, os jogos do Game Pass se tornarão independentes dos consoles da marca com o xCloud. Mas, para quem gosta de uma experiência estável, a Microsoft oferece como opção um console potente e que está no nível de computadores de alto desempenho atuais, e possivelmente com um preço que será mais atraente que montar um PC Gamer high-end.
“O fim da guerra dos consoles”
Apesar da constante briga dos consoles mostrar que PS5 e Xbox Series X são rivais até a morte, parece que a Microsoft deve transformar seu videogame em um “extra” para outros serviços. Phil Spencer, o chefão da divisão de games da Microsoft, compartilhou recentemente um artigo do GamesIndustry.biz apontando que a guerra dos consoles acabou. Agora, cada plataforma tem sua estratégia e pretende ganhar o público de maneiras diferentes.
Desde o lançamento do Switch, a Nintendo está vivendo em seu próprio mundo e surfando na onda de seu console híbrido com seus personagens famosos. Já a Sony tem reforçado a sua estratégia atual, que consiste em lançar exclusivos que impulsionam as vendas de consoles e mantém os jogadores dentro do PlayStation.
Para a Microsoft, o jogo é outro: a companhia aposta atualmente em consoles que tentam ganhar o público com poder bruto. Já a exclusividade é deixada de lado para garantir mais terreno para os serviços da companhia: o Game Pass já está disponível no PC e a rede do Xbox pode ser utilizada em jogos que são vendidos fora da Microsoft Store, como no Steam e até no Switch.
A guerra que a Microsoft está lutando é maior que a briga entre PS5 e Xbox Series X
Desse modo, a companhia consegue garantir renda com o negócio tradicional de vender consoles, mas também ganha espaço em outras plataformas para seus serviços, que cresceram 65% durante o último trimestre e superaram as expectativas da empresa. Assim, a Microsoft não briga apenas com a Sony para lucrar, mas está lutando uma “guerra” que é bem maior que um console.
Com a chegada do xCloud e o Game Pass, a empresa agora luta pela atenção dos usuários, o que inclui roubar consumidores do Stadia, dos jogos mobile e até de plataformas de vídeo. Lembra quando a Netflix dizia que seu principal concorrente era Fortnite? Essa é a nova “guerra” do Xbox: fazer com que as pessoas não apenas comprem um console, mas mantenham uma assinatura mensal e consumam os conteúdos da marca, independente de como isso seja feito.
Considerando a morte prematura do Mixer, ainda é cedo para dizer se a empresa vai manter esse modelo de negócio, mas já dá para ver que a firma está disposta a investir e a novidade está ganhando tração. O Game Pass chegou em 2017 e já possui mais de 10 milhões de usuários. Agora é esperar pra ver se os números aumentam com a integração gratuita a uma plataforma de streaming, a chegada de um novo console e com os lançamentos para o catálogo diversificado de jogos, que vai desde Minecraft até The Witcher 3 atualmente. Se o preço da mensalidade continuar atraente e eu não precisar gastar mais de 200 reais para jogar certos lançamentos, não tem motivo para torcer contra a ideia.