“Estaríamos mortos sem a Unreal Engine”, disse o comandante da Epic Games, Tim Sweeney, em entrevista ao Polygon no ano de 2016. Na época, a empresa vivia do licenciamento de seu motor gráfico, que é um dos mais utilizados na indústria de jogos, e lutava para fazer sucesso com jogos próprios, como o MOBA Paragon, descontinuado em 2018.
Corta para 2021.
A Epic Games é dona de Fortnite, um jogo tão lucrativo que deu forças para a companhia peitar a Apple, e também possui uma loja que dá dores de cabeça para a Steam no mercado de jogos para PC. Além disso, a firma continua investindo na Unreal Engine e descobriu uma forma simples emplacar games de sucesso: comprando ou investindo em estúdios independentes com projetos promissores.
Uma nova casa para Fall Guys
Uma das jogadas da Epic Games Store foi a aquisição da Mediatonic. O estúdio independente é responsável por Fall Guys, o jogo com vibe de Olimpíadas do Faustão que virou febre em 2020, quando chegou ao PS4 direto na PlayStation Plus e foi lançado no PC por R$ 37,99.
O jogo brilhou em suas semanas iniciais, mas não demorou muito tempo para Fall Guys despencar tanto quanto os feijões na prova da Escalada Suja. Enquanto o título alcançou mais de 1 milhão de jogadores simultâneos em seu primeiro mês no ar, o jogo ficou com uma média de 10 mil usuários diários na Steam no começo de 2021.
Isso não quer dizer que o jogo ficou “morto de conteúdo”, como é o caso de Overwatch, por exemplo. Fall Guys continuou recebendo novas roupinhas e temporadas. Ao que tudo indica, uma galera acabou abandonando o game naturalmente, mas a Epic Games usou seu conhecimento para reverter a situação.
Logo no anúncio oficial da aquisição, a Mediatonic já deu algumas pistas de que mudanças chegariam em Fall Guys para ajudar a levantar o game. A desenvolvedora disse que traria recursos populares em jogos como Fortnite e Rocket League, também da Epic, para seu game competitivo, incluindo crossplay e progressão compartilhada.
As promessas foram cumpridas, e ainda vieram com um tempero especial: agora, Fall Guys é 100% free-to-play e conta com uma monetização que lembra Fortnite.
Vida renovada
Apesar de uma galera torcer o nariz para a Epic Games por causa de suas práticas de exclusividade temporária, não dá para discordar que a compra da Mediatonic fez muito bem para Fall Guys. Afinal, o jogo estava bem parado e finalmente voltou aos holofotes.
Assim como Fortnite, Fall Guys possui uma temática amigável para a família e um sistema de monetização de skins que pode gerar parcerias interessantes. A Mediatonic até já está se aproveitando disso, lançando skins que vão desde Chapolin até Doom e Half-Life.
Como Fortnite prova, a Epic Games é mestre em lidar com jogos que exigem um suporte constante e que tem capacidade de alcançar uma grande massa de público. Com cerca de 350 milhões de jogadores, o battle royale agrada a criançada com conteúdos brilhantes e chamativos, mas também é capaz de atrair a atenção de um pessoal mais velho com skins inspiradas em temas clássicos, como o filme Alien e o desenho Dragon Ball.
Enquanto ainda não tivemos um grande evento que trouxe público massivo para Fall Guys, a Epic tem força de sobra para fazer isso acontecer. Com seu poder e infraestrutura, a empresa pode transformar Fall Guys e transformá-lo em mais uma plataforma viva, da mesma forma que aconteceu com Rocket League.
Um ano após adquirir a Psyonix, a companhia transformou o jogo de futebol com carros em um jogo free-to-play e introduziu um novo sistema de temporadas e eventos para manter o game vivo. As alterações fizeram Rocket League ganhar mais atenção em todas as plataformas, além de conteúdos cruzados com as outras propriedades da Epic.
O único preço que os jogadores tem que pagar é a limitação nas vendas do PC. Assim como Fortnite, os jogos free-to-play da Epic Games são distribuídos pela loja da empresa, ficando de fora da Steam. No entanto, quem teve tempo de adquirir Fall Guys ou Rocket League na plataforma da Valve, ainda pode jogá-los por meio do serviço.
Um novo Fortnite?
A estratégia aquisição também mostra que a Epic Games possui uma filosofia parecida com a Microsoft. Ao invés de tentar construir um novo hit do zero, a empresa está comprando estúdios menores e que possuem jogos com bastante potencial de crescimento.
Como a empresa está numa situação favorável atualmente, a estratégia pode ser bastante positiva. Afinal, não é tão simples emplacar um jogo de sucesso, e a própria Epic Games sabe disso. Durante o ano de 2016, a companhia lançou o MOBA Paragon, que era gratuito e tinha um conteúdo caprichado, mas simplesmente não vingou e acabou se tornando um pacote de conteúdos da Unreal Engine.
A marimba da Epic Games no passado era tão grande que fica até difícil dizer se Fortnite seria o sucesso que é hoje se não fosse a onda dos jogos de Battle Royale. O jogo nasceu como um survival de zumbis e só virou o hit que é hoje graças ao sucesso de games como PUBG.
Quando viu o sucesso da batalha real, a Epic Games foi ligeira e conseguiu adaptar o game para o gênero em apenas dois meses. Enquanto o jogo carecia de conteúdo na fase beta e tinha apenas uma base para funcionar, a empresa caprichou no suporte nos meses seguintes, garantindo conteúdos inéditos, parcerias de peso e versões para o máximo de plataformas, fazendo até a Sony aceitar que crossplay é uma parada boa para a indústria.
Em busca de estrelas
Repetir esse sucesso, no entanto, não é uma missão fácil. A Epic Games já tá ligada que lançar uma nova IP interessante e que atraia a atenção do público pode ser uma tarefa árdua, e comprar um Fall Guys da vida por um preço camarada e só garantir a continuidade do game pode ser uma forma mais simples de criar um novo Fortnite.
Outra aposta da empresa está nos investimentos. Por meio da Epic Games Publishing, a companhia já lançou Rumbleverse, mais um jogo multiplayer grátis que possui pontos comerciais interessantes: é caricato, family-friendly e suporta diferentes skins.
Enquanto é difícil encontrar a receita para fazer um grande jogo gratuito de sucesso como Fortnite, a Epic Games claramente está colocando todos os seus chefs para trabalhar em algo próximo de seu grande banquete de cultura pop.