O Microsoft XCloud prepara sua chegada ao Brasil com uma fase de preview para usuários selecionados de todo o país. A jogatina por streaming no celular é promissora e já foi dita como “o futuro dos games”. Agora que os testes começaram, fica a questão: nossa internet está pronta para isso?
Assim que recebi o e-mail de convite para participar do acesso antecipado do Microsoft xCloud no Brasil, fiquei surpreso. A notícia caiu como uma luva nessa semana e instantaneamente me empolguei pela entrada nesse grupo de testes, mesmo morando no interior do Rio de Janeiro e sem nada que favorecesse os resultados da Microsoft.
Antes de mais nada, algumas observações:
O app Microsoft xCloud foi baixado do meu celular Motorola Moto Z2 Play, já com mais de 1 ano de uso e conectado ao Wi-Fi de 5 GHz e 2.4 GHz do roteador entregue pela minha provedora de internet local, numa conexão banda larga que promete entregar 300 MB. Ao lado dele, conectei o game no 4G da TIM, no meu plano pré-pago, mas de forma breve para não derreter meus dados móveis da semana.
Veja como se inscrever no beta gratuito do xCloud
Baixei o app imediatamente e logo fui conferir como estava o serviço. Infelizmente, a conta convidada não é a mesma que utilizo para assinar o Xbox Game Pass no PC (o que comprova que ser assinante, de fato, não favorece os candidatos), então todo meu progresso foi deixado de lado e fui largado numa conta praticamente inutilizada.
Ignorando esse problema, fui direto para os jogos. A plataforma exige que você conecte um controle Xbox via bluetooth para a imensa maioria de títulos, dispensado somente em Hellblade: Senua’s Sacrifice e Minecraft Dungeons — estes com botões e controles que estão disponíveis para jogar direto da tela (comentarei sobre mais tarde).
De primeira, frustração
Pulei direto para o Minecraft Dungeons, jogo que julgo ser piedoso com latências mais altas, com gameplay mais lenta e compassada. Depois de um longo minuto — e do game ter iniciado duas vezes (e isso acontece todas as vezes que o abro), pude entrar no menu e começar minha ligeira jornada no streaming.
Quando a conexão dá uma fraquejada,
o jogo vai junto.
A fluidez não durou muito e logo de cara dá para sentir que os controles não são lá tão responsivos. Digo de antemão que todo o período de experimentação provocou essa mesma sensação. Contudo, logo meu cérebro se adaptou à lentidão e eu passei a “me sentir” em um gameplay normal.
Assim que minha conexão alcançou uma estabilidade considerável, minha experiência foi boa. Consegui terminar 3 missões dentro de Mineraft Dungeons e aproveitei a experiência de jogar de onde eu queria. Fiz comida para almoço enquanto jogava e esperava o arroz na panela. Tomei um sol da varanda com o game no celular. Joguei direto da cama, longe do computador.
Não demorou muito para entender o potencial do Microsoft xCloud para meu tipo de consumo. Ele é um constante companheiro “pronto” para ser jogado direto do celular quando estou em casa. Ainda não tive a oportunidade de testá-lo fora de casa, por ainda estar evitando ir à rua e não precisar me deslocar para trabalho, mas o 4G entregou uma experiência “OK”, considerando alguns solavancos.
Como é jogar no streaming?
Em resumo: é diferente. O tamanho da tela, latência e arrumar uma posição para o celular me incomodou. Nunca me dediquei ao game mobile, então foi algo totalmente inédito. Ainda assim, deu para aproveitar e ficar surpreso pela eficiência do serviço.
Logo de cara me deparei com problemas que devem impactar significativamente no jogo por streaming de boa parte dos brasileiros. Tive que manualmente me conectar à conexão 5.0 GHz do roteador da casa. A conexão demorou, o roteador não apresentava funcionamento pleno e, infelizmente, estou preso a ele devido a exigências do provedor local.
Demorou um pouco para finalmente ter uma gameplay estável no XCloud. A plataforma apresentava frequentemente o indicativo de “Problemas de rede”, acompanhado por frames mais lentos, delay e “pipocadas” do áudio. Não foi um primeiro encontro tão agradável, mas encarei com paciência e, algumas horas depois, pude aproveitar em sua totalidade.
Quando funcionou, experimentei jogos com Gears 5, Minecraft Dungeons, Forza Horizon 4, Hellblade: Senua’s Sacrifice e PlayersUnknown’s Battlegrounds. Ainda vou dar um tempo para aproveitar outros títulos disponíveis (e que avaliarei em futuros artigos), mas não acho justo entregar um veredito sobre um serviço ainda em fase beta.
A latência do xCloud
Por não contar com a capacidade de buffer para carregar sua gameplay com antecedência, o xCloud é basicamente uma transmissão de vídeo que acontece direta e exclusivamente para a sua tela. É ali, tá acontecendo agora e qualquer atraso é perceptível. E nisso o xCloud peca para o jogador de console ou PC.
Quando jogando pelo controle, a experiência é a mais confortável e familiar possível, mas a latência ganha espaço. Pense assim: o apertar de um botão é entregue através de Bluetooth, o celular interpretará, enviará para os servidores e eles retornarão as imagens. Esse processo é de todos o mais lento, mas ainda permitem uma jogatina aceitável em games que não exigem respostas rápidas.
Botões sobre a tela são contextualizados e acompanham a gameplay.
Quando há controles na tela, o cenário muda. Minecraft Dungeons e Hellblade: Senua’s Sacrifice são os únicos que contam com controles sobre a tela no momento da elaboração desse artigo — e são extremamente elegantes. Todo o botão apresentado é mostrado contextualizado, com ícones de fácil interpretação e facilmente se encaixando na gameplay.
Controles sobre a tela do celular
O resultado entregue é aquilo que dá para esperar de uma gameplay da tela do celular. Uma parte do display é destinada ao jogo com o analógico virtual, enquanto a outro possui espaço para os botões. No caso do xCloud, no entanto, só são exibidos os botões necessários para jogar, todos com seu devido contexto — e isso facilita bastante.
Nesse caso, o streaming também aproveita uma lentidão menor para receber os controles. O apertar de um botão, nesse caso, passa do celular para os servidores diretamente, o que agiliza boa parte da latência. Em Hellblade, inclusive, fui até capaz de realizar alguns bloqueios precisos quando me acostumei com a lentidão e rapidamente “me esqueci” de estar jogando pelo celular.
Ao jogar com comandos sobre a tela, eles também interagem com os acontecimentos do jogo. Hellblade tem momentos exclusivos para cutscenes — momento em que todos os botões somem —, momentos de caminhada e solução de puzzles apresentam somente o botão de interação, foco e os analógicos de andar e câmera; nos combates, a tela é recheada por mais botões, agora com defesa, golpe fraco, forte, chute e desvio, acompanhado dos demais.
Os bugs existem
Quando minha experiência não fluía bem ou com engasgos na conexão, o app de streaming apresentou problemas. Assim que fechei o Minecraft Dungeons pela primeira vez, o aplicativo da Microsoft travou na tela de feedback e não respondia a comando algum. Fechei, ignorando o processo de envio de feedback, e assim que o abri novamente me deparei com o aviso de “O aplicativo parou de funcionar” do Android (mais de uma vez).
Isso aconteceu várias vezes — inclusive quando eu estava jogando. Por não estar tão preso ao progresso dos games testados, não me importei por ter perdido todo o avanço na campanha, mas estou ciente que esses crashes repentinos podem acontecer e comprometer todo o avanço.
Ademais, como pontuado em vídeo do Adrenaline, o primeiro a sofrer com instabilidade na conexão é a qualidade da transmissão. Rapidamente o jogo começa a apresentar artefatos na tela e os comandos se tornam lentos. Nesses momentos, é melhor esperar por uma melhora na rede, ou estará sujeito a uma imensa frustração.
XCloud é para quem?
Não é difícil encontrar uma aplicação do xCloud durante a rotina ou logo detestá-lo. Ao optar pela jogatina por streaming — pelo menos no estágio atual — é indispensável ter paciência e estar ciente das limitações. Diante disso, ele tem um enorme potencial.
Ele abre espaço para a pessoa que está imersa no catálogo do Xbox Game Pass e quer testar um recente lançamento antes de baixá-lo no console ou PC. O serviço pode ser um companheiro para todas as horas, te permitindo ficar distante das telas maiores para aproveitar direto do celular ou atender a necessidades menores de alguém que não tem nenhum console ou PC gamer poderoso.
Apesar do xCloud ainda exigir um roteador de 5 GHz para uma experiência aceitável, um dispositivo como esses é, de longe, o mais barato em comparação a um novo console ou PC gamer. A Microsoft faz bem em tornar o ecossistema Xbox mais acessível, e o serviço facilmente alcançará pessoas que ainda não tem condições para ter um videogame ou finalmente apresentá-las a esse universo.
A palavra é acessibilidade
A ausência de exigências para o hardware Android é outro poderoso fator. Segundo a Microsoft, basta ter Android 6.0 ou superior (o que a imensa maioria dos celulares já é), para conferir o serviço. Não é necessário um celular topo de linha ou intermediário para aproveitar. Com exceção dos games que exigem controle (que hoje fica em torno dos R$ 500), para jogar no xCloud basta um celular Android compatível.
Sendo assim, o xCloud é útil para vários momentos e pessoas. Cabe a você decidir se é bom para você, mas é bom testar antes de tomar a decisão final. Ainda não há datas para o fim da fase beta, mas assim que sair, compartilharei opiniões mais maduras acerca do gaming por streaming da Microsoft.