Categorias
Análises PC PlayStation Xbox

The Quarry é basicamente Until Dawn 2 – Análise

Novo projeto da Supermassive Games adota o mesmo formato do icônico jogo de escolhas do PS4, mas com um novo nome e elenco

Especialista em jogos de escolhas com gráficos de ponta, o estúdio Supermassive Games entrou no radar dos jogadores após lançar Until Dawn, em 2014. Disponível somente no PlayStation, o jogo de terror recheado de estrelas, como o vencedor do Oscar Rami Malek, conquistou uma base de fãs, mas jamais recebeu uma sequência.

Isso, no entanto, acaba de mudar… Pelo menos “espiritualmente”. Além de lançar novos jogos na coletânea The Dark Pictures, a Supermassive trabalhou em parceria com a 2K Games em The Quarry. Já disponível no PC e consoles, o game é claramente tudo que Until Dawn 2 deveria ser, se a PlayStation resolvesse dar continuidade à franquia.

A escolha do estúdio

Enquanto sequências são bastante comuns no mundo dos jogos, os games focados em escolha acabam enfrentando certos dilemas ao receber novos títulos. Com várias possibilidades para os personagens viverem ou morrerem, pode ser difícil escolher um caminho canônico ou explorar todas as possibilidades em spin-offs.

Em 2019, a Supermassive Games justificou a inexistência de Until Dawn 2 dizendo que justamente gostaria de explorar novos personagens e histórias, e que lançar uma sequência poderia ser perigoso. No entanto, a ausência dos protagonistas não é motivo para “matar” uma franquia.

The Quarry e Until Dawn compartilham muitos conceitos. Imagens: Supermassive Games

A Square Enix, que costuma cometer deslizes com muitas franquias, tem feito um ótimo trabalho nesse sentido com Life is Strange, e até conseguiu uma fórmula para manter seu “universo”. Os jogos principais da franquia compartilham do mesmo mundo graças a pequenos detalhes, que mudam de acordo com as escolhas feitas pelo jogador nos jogos anteriores.

No entanto, mesmo compartilhando o mesmo universo e até alguns personagens secundários, os protagonistas são diferentes. Assim, os jogadores podem manter a sensação de que suas escolhas anteriores importaram, ao mesmo tempo em que podem continuar vivendo naquele mundo e explorando novas narrativas.

Until Dawn

Elenco com vários famosos ✅

Atmosfera de terror densa ✅

Inspiração em clássicos do cinema ✅

Plot Twist interessante na história ✅

Feito em parceria com a PlayStation ✅

The Quarry

Elenco com vários famosos ✅

Atmosfera de terror densa ✅

Inspiração em clássicos do cinema ✅

Plot Twist interessante na história ✅

Feito em parceria com a PlayStation ❌

Com isso, o novo jogo da Supermassive tem tudo para ganhar o coração da fanbase que curtia Until Dawn e também angariar novos fãs de jogos de terror. Afinal, o gameplay nascido no game de 2014 foi aprimorado e, apesar de alguns deslizes, ainda funciona muito bem.

Elenco famoso, gráficos bonitos

Tal qual os outros jogos da Supermassive, The Quarry chama a atenção por trazer um elenco recheado de estrelas. No game, atores famosos como Justice Smith e Ted Raimi ganham versões digitais extremamente realistas.

No PC, com o jogo rodando em uma RTX 3070, o resultado é tão surpreendente que chega a ser assustador. Tirando alguns deslizes com os “olhares perdidos” de alguns personagens, a experiência é bastante similar a ver os astros atuando em filmes.

A Unreal Engine 5 também mostra seu poder nos ambientes realistas de The Quarry. A experiência de passear pela floresta e o acampamento lembra os clássicos filmes de terror de qualidade duvidosa dos anos 80 e 90.

Toda essa qualidade, no entanto, acaba exigindo poder do computador. Mesmo rodando o jogo em um sistema de ponta, enfrentamos alguns problemas no carregamento de texturas, além de travamentos em algumas transições de cena.

Detalhe: os problemas em questão ocorreram até mesmo com o jogo rodando em um SSD. Apesar de ser uma falha técnica, o bug acaba atrapalhando o ritmo da jogatina e uma correção oficial seria bem vinda, afinal, estamos falando de um jogo que custa mais de R$ 300.

História ruim, como deveria ser

The Quarry acompanha mais uma tradição estadunidense que sempre é tema de filme de terror: os acampamentos de verão. Um grupo de monitores de Hackett’s Quarry está pronto para voltar às suas vidas após um mês trabalhando no local. No entanto, o carro quebra e eles são obrigados a passar mais uma noite no lugar, e as coisas acabam tomando caminhos inesperados e perigosos.

The Quarry | Official Announce Trailer | 2K

Bruxas? Monstros? Assassinos? O maior terror de The Quarry são os protagonistas do game. Homenageando filmes B de terror, a história é tão ruim quanto deveria ser. Assim como em Until Dawn, o jogador acompanha um grupo de jovens chatos e com diálogos tão ruins que você tem até vontade de matá-los propositalmente.

Enquanto os protagonistas são odiáveis, a atmosfera criada ao redor deles garante uma experiência de terror de primeira para o game. O andamento da narrativa também é excepcional. Assim como o primeiro grande hit da Supermassive, The Quarry explora diversas nuances do horror e entrega uma história cheia de reviravoltas.

É importante mencionar, porém, que o jogo não é ASSUSTADOR. Para quem gosta de experiências de arrepiar os cabelos e tirar a alma do corpo, o game pode acabar decepcionando. Porém, a experiência narrativa entregue pelo título é bem interessante.

Sou uma pessoa que tem bastante ressalvas com jogos de terror e consegui encarar toda a experiência sem grandes sustos, e jogando durante a noite. Porém, a atmosfera de suspense criada com os mistérios da história e as possibilidades criadas com o andamento da trama fazem o jogador ser cauteloso a cada escolha.

Muitas possibilidades

Quando o assunto são escolhas, o alcance de The Quarry é impressionante. Segundo os desenvolvedores, o game conta com mais de 180 possibilidades de finais, considerando as diferentes formas que personagens podem seguir seus caminhos. E uma boa parcela desse número pode ser sentida durante o gameplay.

Enquanto algumas escolhas são pré-definidas para manter a história acontecendo, o jogo coloca vários momentos decisivos nas mãos do jogador, permitindo moldar partes importantes da narrativa. Como esperado, The Quarry também coloca várias formas de matar os personagens no caminho, desde uma sequência de escolhas erradas até pequenos passos em falso que podem ser fatais.

Uma adição interessante do game é um sistema com vidas, disponível após a primeira zerada e na versão Deluxe, que permite repetir certas partes do gameplay para safar a pele de um personagem que acabou de morrer. Para quem se apegar aos jovens que protagonizam a história, a ferramenta pode ser muito útil.

Seguindo os passos de outros jogos da Supermassive, The Quarry também possui uma “presença externa” que acompanha a narrativa e dá pistas sobre o que está por vir. No entanto, diferente do psicólogo de Until Dawn e o contador de história de The Dark Pictures, o novo jogo dá um passo extra com a contadora de histórias que aparece em The Quarry.

Filme interativo

Outro ponto que merece atenção no game são as mecânicas de assistir a experiência como um filme ou jogar com múltiplas pessoas. A Supermassive aceitou de vez que seus jogos são histórias interativas e trouxe em The Quarry a possibilidade de ver toda a aventura como um longa-metragem — você até pode escolher se os personagens vivem ou morrem antes da exibição.

Como o jogo traz legendas e até dublagem em português brasileiro, a novidade é ótima para deixar o game como mídia de ambiente no Halloween ou durante um rolê com os amigos, por exemplo. A função de multiplayer cooperativo garante uma função similar, permitindo que múltiplas pessoas joguem ao controlar os diferentes personagens da história.

The Quarry é tão filme que você pode simplesmente assistir o game

Outra função extra interessante é o “Modo Diretor”, trazendo ainda mais possibilidades para quem quer assistir ao game. Com a opção, o jogador consegue configurar a “personalidade” de cada um dos campistas de The Quarry, o que garante um gameplay personalizado para assistir.

Apesar de não ser uma opção que vai ganhar a atenção de muitos jogadores, é interessante ver a Supermassive dando cada vez mais atenção para a experiência de “assistir games”. Afinal, considerando o gameplay dos títulos da empresa, a experiência é um ótimo ponto de partida para quem quer ir além dos filmes e começar a entrar no mundo dos games.

A desenvolvedora também teve cuidado de adicionar ao game um modo para streamers, permitindo desabilitar as músicas licenciadas e que podem dar problemas em plataformas como YouTube. Enquanto a trilha sonora tem seu charme, quando não acaba roubando a cena mais do que deveria, as músicas estão longes de ser tão marcantes quanto aquele cover de O’ Death da abertura de Until Dawn.

Os problemas

Além de copiar os acertos de seus maiores hits e melhorar a sua experiência de contar histórias, a Supermassive ainda trouxe alguns problemas que já são clássicos dos jogos da empresa. Para quem pretende pegar o jogo no preço cheio, vale a pena ter isso em mente.

A câmera do game segue uma pegada mais livre, visando entregar uma experiência “cinematográfica”. Enquanto grande parte das sequências acontece com o visual acima do ombro, facilitando a movimentação, algumas sequências seguem o famigerado modelo tanque, o que pode fazer você se perder no cenário com a movimentação zoada.

Além disso, grande parte do game é tão escura quanto a personalidade do Batman. O game inteiro se passa durante uma noite, mas explorar certos cômodos na escuridão e com pouca luz pode te deixar perdido por uma eternidade. Com isso em mente, fique pronto para mexer no brilho do jogo e da sua TV durante o gameplay.

“Não espere grandes inovações de The Quarry”“”

Falando em gameplay, outro ponto interessante que vale ser mencionado é a reciclagem de certos recursos. Funções existentes desde Until Dawn estão presentes nesse jogo, como a opção de “se esconder” do inimigo e, claro, os Quick Time Events. Caso você não seja fã das mecânicas, já fica aí o aviso: elas voltaram e são parte central da jogabilidade.

Por fim, outro ponto que me incomodou foi o design da maior ameaça da história do game. Com toda a evolução gráfica que temos atualmente e o poder da Unreal Engine 5 em gerar seres assustadores, o visual da criatura que antagoniza o jogador é consideravelmente pobre. Em alguns momentos, temos até a sensação que a empresa reciclou o monstro que aparece em Until Dawn. Ao que parece, todo o orçamento gráfico acabou indo para os atores famosos e o ambiente…

Vale a pena jogar?

The Quarry é a praticamente a adaptação de um filme de terror com personagens superficiais para o mundo dos games. Recheado de escolhas, o título é perfeito para quem curte uma jogatina mais parada e 100% focada na narrativa, mas não espere muitas inovações na fórmula da Supermassive Games.

The Quarry serve como um sucessor espiritual de Until Dawn, mas espere uma promoção para visitar o acampamento

Para quem sempre sonhou em jogar uma sequência de Until Dawn, o game serve perfeitamente como um substituto. Com personagens irritantes e uma atmosfera densa de suspense, The Quarry brinca com vários clichês do terror e entrega uma jornada única e que certamente vai ganhar atenção dos gamers que curtem uma história interativa.

Como o game conta com uns problemas técnicos e a crise tá complicada, talvez seja uma boa esperar para adquirir o título, que atualmente custa mais de R$ 300. No entanto, vale a pena deixar o jogo no seu radar e futuramente descobrir os mistérios de Hackett’s Quarry — e ver quantos personagens você deixa vivo até o final da noite.

Por Mateus Mognon

Jornalista formado na UFSC e criador do Jornal dos Jogos, veículo que reúne as principais notícias de games com curadoria e aquele "jeito moleque" de escrever.